Em outubro deste ano, na 39ª edição do Congresso Brasileiro de Psiquiatria, um dos temas da pauta foi o espaço da espiritualidade na psiquiatria. O debate visou compreender a busca da espiritualidade em momentos de adversidade, principalmente problemas de saúde.
O impacto da inserção desse aspecto espiritual na ciência passou a ser visto com mais atenção nos últimos anos. A proposta dos especialistas que participaram do congresso é que o médico conheça melhor o lado espiritual do paciente.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, grande parte dos pacientes espiritualizados sente vontade de abordar o assunto nas consultas psiquiátricas, por isso o profissional precisa estar capacitado para conversar sobre o assunto a fim de compreender o relato do paciente sobre o seu estado.
Mas claro que a abordagem da espiritualidade não deve assumir um papel de protagonismo, no qual o profissional tenha de escolher entre o tratamento convencional e tomar decisões em prol desse aspecto particular, a proposta desses especialistas é abordar o tema como fator importante para a pessoa em conjunto com a análise dos aspectos biológicos, psíquicos, sociais.
Dessa forma, sem desconsiderar a importância da medicação e da psicoterapia, o profissional dá abertura para o paciente falar sobre o assunto, se o quiser, afinal o espaço espiritual individual de cada um pode se apresentar como um ambiente de conforto e acolhimento fora dos consultórios.
A Associação Mundial de Psiquiatria (WPA, por sua sigla em inglês) divulgou algumas diretrizes em relação à espiritualidade nessa especialidade:
Uma consideração delicada das crenças e práticas religiosas dos pacientes, bem como sua espiritualidade, deve ser rotineiramente considerada e, às vezes, considerada um componente essencial da entrevista e do diagnóstico psiquiátricos.
A compreensão da religião e da espiritualidade, bem como sua relação com o diagnóstico, a etiologia e o tratamento de pacientes com transtornos psiquiátricos, devem ser consideradas como componentes essenciais tanto da formação psiquiátrica quanto do desenvolvimento profissional contínuo.
Há necessidade de mais pesquisas sobre religião e espiritualidade em psiquiatria, especialmente em suas aplicações clínicas, e devem abranger ampla diversidade de contextos culturais e geográficos.
A abordagem da religião e da espiritualidade deve ser centrada na pessoa. Os psiquiatras não devem usar sua posição profissional para fazer proselitismo para visões de mundo espiritual ou seculares, devem sempre respeitar e ser sensíveis às crenças e práticas espirituais/religiosas de seus pacientes e suas famílias e cuidadores.
Os psiquiatras, quaisquer que sejam suas crenças pessoais, devem estar dispostos a trabalhar com líderes/membros de comunidades religiosas, capelães e agentes pastorais etc. com o objetivo de apoiar o bem-estar de seus pacientes, e devem encorajar seus colegas multidisciplinares a fazer o mesmo.
Os profissionais médicos devem demonstrar consciência, respeito e sensibilidade ao importante papel que a espiritualidade e a religião desempenham para muitos funcionários e voluntários na formação de uma vocação para trabalhar no campo da saúde mental.
Por último, precisam estar cientes tanto do potencial benéfico quanto prejudicial das visões de mundo e práticas religiosas, espirituais e seculares, e estar dispostos a compartilhar essas informações de maneira crítica, mas imparcial, com a comunidade em geral, apoiando a promoção da saúde e do bem-estar dos pacientes.