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Câncer de mama e alterações emocionais — uma relação estreita e muito perigosa

A campanha mundial Outubro Rosa já está solidificada na mente das pessoas, basta ver um laço rosa e já sabemos que se trata do mês dedicado à conscientização sobre o cuidado e a prevenção do câncer de mama.

Sim, os cuidados devem acontecer o ano todo, mas é neste mês que se intensifica a procura por consultas a ginecologistas e mastologistas, bem como mamografias, como revelam os organismos oficiais da saúde no país.

Mas muita gente se esquece da relação do tratamento oncológico com as alterações emocionais, muitas vezes desencadeadas durante o processo, desde a investigação até o fim do seguimento (alta completa).

Segundo explica o psiquiatra Joel Rennó, coordenador da Comissão de Estudos e Pesquisa da Saúde Mental da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), uma em quatro mulheres diagnosticadas com câncer de mama é mais propensa a ter depressão.

“A gente pode analisar múltiplos fatores envolvidos, que englobam diversas fases, desde o diagnóstico, o prognóstico, o tratamento e os efeitos adversos colaterais que, muitas vezes, vêm acompanhados nos tipos de câncer de mama mais agressivos, em função do tratamento”, explicou o médico, lembrando que alguns tratamentos provocam gatilhos estressores no início ou são capazes de piorar um quadro depressivo nessas pacientes.

Para o membro da Academia Nacional de Medicina (ANM), psiquiatra Jorge Jaber, a alta incidência de depressão e ansiedade em mulheres com diagnóstico de câncer de mama envolve fatores emocionais e físicos. “Por atingir os seios, órgãos associados à feminilidade, sexualidade e maternidade, o câncer de mama tem impacto direto na estrutura emocional e psicológica da mulher, podendo provocar uma redução em sua autoestima e, consequentemente, na sua própria capacidade de criar resistência imunológica às células cancerígenas”.

O câncer provoca ainda disfunções metabólicas, o que pode alterar o estado emocional de algumas pacientes e desencadear transtornos, como depressão e ansiedade, ressalta o psiquiatra da ANM. “Por seu simbolismo e estigma, o câncer torna mais palpável a consciência da morte, que pode gerar uma reação depressiva, que diminui a capacidade de resposta do organismo não apenas contra o agente invasor, mas também contra os problemas mentais”.

Estigma do câncer

Ainda como destaca Dr. Joel Rennó, apesar de 90% dos casos da doença diagnosticados precocemente terem sucesso terapêutico, “[…] o câncer ainda é uma doença estigmatizante, assim como a doença mental“, resultando em reações como medo, angústia, indagações, tristeza, inconformismo, desesperança, irritabilidade, dificuldade de aceitação, explica.

Por isso se recomenda que toda mulher com tumor mamário tenha apoio psiquiátrico desde o diagnóstico, evitando o agravamento de quadros depressivos e de ansiedade grave. “A gente sabe que, quanto melhor a pessoa estiver do ponto de vista da saúde mental, mais chances ela tem de fazer todos os tratamentos e ter hábitos que contribuam para o sucesso terapêutico”, conclui o membro da ABP.